sábado, 16 de março de 2013

SP - ALESP audiência sobre cotas raciais

Movimentos sociais protagonizam audiência sobre cotas raciais

Pelo menos 400 pessoas estiveram reunidas na audiência pública que sacudiu a Assembleia Legislativa de São Paulo, no final da tarde de quarta-feira (13), que seguiu noite adentro. Na pauta, as cotas raciais nas universidades públicas paulistas. Estudantes, negros e brancos, além dos movimentos pró-cotas, foram os grandes protagonistas do debate, levando o recado aos deputados: “queremos debater e construir uma política inclusiva de cotas.”


Por Deborah Moreira - Da Redação do Vermelho
14 de Março de 2013 - 16h12

Os movimentos negro e estudantil deixaram claro que não passará desapercebido o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp), proposto de forma unilateral pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), impondo barreiras para a implementação da lei de cotas raciais nas universidades do estado. Além de debater, os movimentos querem dar sua contribuição para a democratização da universidade.

Inicialmente marcado para acontecer no auditório Franco Montoro, o debate foi transferido a pedido da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB), presidenta da Comissão de Educação e Cultura, que realizou a audiência em conjunto com a bancada do PT. A presidenta da sessão solicitou um plenário maior devido a grande quantidade de presentes, o que acabou atrasando em meia hora o evento. Mesmo após quatro horas, a maioria permaneceu até o final, após as diversas intervenções de representantes do Conselho de Reitores das

A deputada comunista Leci Brandão até tentou conter os ânimos, mas a todo instante os estudantes faziam intervenções, entoavam palavras de ordem, levantavam cartazes, imprimindo na audiência a rebeldia necessária e na medida em que, ao final, foi saudada e reconhecida por Leci.

Em um desses momentos protagonizados pelos universitários presentes, eles cantaram o verso bastante simbólico do poeta baiano, José Limeira, em Negro homem, negra poesia, quando foi apontado na plateia o professor e cientista social da Universidade de São Paulo (USP), Kabengele Munanga: “Por menos que conte a história. Não te esqueço meu povo. Se Palmares não vive mais. Faremos Palmares de novo”.

O presidente da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Edson França, presente na audiência, ressaltou ao Vermelho o significado da audiência pública: "Para nós a audiência é bastante relevante para primeiro mobilizar a Casa, os parlamentares para esse debate da cota. A Casa está muito distante disso. O governo Alckmin apresentou uma proposta, para o colegiado, mas como aqui é o espaço de representação do povo paulista, os deputados estaduais precisam entrar nesse debate. A gente tem percebido que em outros estados os parlamentos estaduais foram sujeitos bastante ativos no debate das cotas [raciais], assim foi quando ocorreu a discussão em nível federal, e assim precisa ser aqui em São Paulo. Temos um mandato bastante conservador no estado de São Paulo e a Casa está conservadora, a maioria da base do governo tem silenciado pontos importantes para os paulistas".

Edson e outras lideranças dos movimentos presentes defenderam o aproveitamento dos projetos de lei que já foram aprovados, discutidos e que traduzem a luta pela implementação das cotas raciais existente há mais de 10 anos.

“Viemos denunciar o caráter retrógrado, conservador e discriminatório dessa proposta do governo Alckmin e que desconsidera os 10 anos de cotas no Brasil. Não estamos iniciando uma discussão. O Brasil já tem uma discussão acumulada, tem resultados, tem avaliações apresentadas para o público e não se pode ignorar esse conhecimento coletivo do país. Não queremos categorias diferenciadas de cotistas. Queremos para São Paulo os mesmos direitos que os estudantes de outros estados têm”, destacou ele.

Por fim, Edson França também observou que a presença maciça de estudantes e militantes no plenário representa a força e o protagonismo que os movimentos têm nessa pauta: “É importante unificar de maneira coletiva uma proposta. Não só não queremos o Pimesp porque é uma proposta segregacionista, como queremos um modelo que já tenha sido proposto aqui na Casa, como o PL 530, assinado por 28 deputados, que atende o interesse da população pobre e negra do estado, que tem lutado pelas cotas”, completou o presidente da Unegro, em plenário.

Outros dois importantes representantes do movimento negro que estavam presentes, também  foram convidados a falar na audiência, em nome do movimento negro e entidades integrantes da Frente Pró-Cotas do Estado de São Paulo. Douglas Belchior, da Uneafro e o professor Silvio Almeida, do Instituto Luiz Gama.

“Depois da medida truculenta do governo de tentar impor um programa e apresentá-lo à sociedade em dezembro, sem dialogar com a sociedade, os movimentos se organizaram e reagiram com um grande manifesto bastante representativo. Nós estamos vencendo esse debate, a cada dia novos professores, setores da sociedade se colocam contra esse programa, esse projeto autoritário do Alckmin e do PSDB, bem como das reitorias. Hoje temos a oportunidade de iniciar um debate olho no olho, cara a cara com os reitores”, desabafou Douglas Belchior em entrevista ao Vermelho, pouco antes de subir ao plenário. “É um debate positivo, propositivo. Saímos daqui maiores do que quando chegamos”, concluiu.

De acordo com os representantes das organizações presentes, as mesmas não foram consultadas, nem mesmo a comunidade acadêmica das universidades paulistas estaduais, o que teria “atropelado os processos internos nas universidades de debate e diálogo”.

Qual o mérito do Pimesp?

Silvio Arruda esmiuçou, em sua fala durante a audiência, que o Pimesp traz três tipos de problemas: de ordem política, tendo em vista que está sendo imposto e não debatido, construído coletivamente; de ordem técnica, já que a construção do projeto em si, pouco se sabe sobre como foi feita e por quem foi construído, quais especialistas assinam o projeto; o terceiro, de ordem jurídica, que impede o acolhimento desse programa como um programa universal a ser implementado na universidade.

“Se o programa é de inclusão por mérito, qual o mérito das pessoas que construíram esse projeto? Não estou dizendo que não tenha, mas eu quero saber, quero ser informado para que eu possa discuti-lo com essas pessoas, já que o critério é de meritocracia para ocupar o espaço de poder”, exclamou Silvio Almeida sendo bastante aplaudido.

College

Silvio Almeida fez questão de explicar o que é o college, uma espécie de sala de espera para estudantes de baixa renda e negros.

“Por fim, sobre as questões de ordem jurídica, esse projeto cria um grupo chamado college, onde estariam os alunos por um ano ou dois anos, em uma etapa intermediária para poderem ingressar na universidade, fazendo um curso técnico. Agora, eu não sei quem foi que concebeu essa ideia do college, será que é eficiente? Não há dados sobre isso. Mas parece uma proposta segregacionista, porque é uma proposta da Univesp, de ensino à distância, e, portanto, será negado a esses alunos a convivência universitária. E quem olhar a grade curricular desse curso verá coisas do tipo ‘empreendedorismo’, ‘liderança’, ‘organização do trabalho’. Agora, quem conseguir chegar ao final de dois anos do curso, vai se formar no quê? Em organização do tempo? Ou liderança, empreendedorismo? Vai trabalhar aonde?”, indignou-se Silvio, que também é professor de direito e metodologia científica.

“Há dados distorcidos sem citação de fontes. Falando como professor, se um aluno meu apresenta um projeto com dados sem comprovação eu reprovo”, concluiu o representante do movimento negro sob muitas palmas.

“É necessário a nova abolição, pra trazer de volta a minha liberdade”

Por volta das 20h30, depois de muitos representantes dos movimentos e das reitorias falarem, a deputada Leci Brandão quebrou o protocolo, deixando temporariamente a presidência da mesa – entregando-a ao deputado Adriano Diogo (PT) – para dar seu próprio testemunho sobre a questão racial.

Citando os versos do sambista Cartola, a canção Autonomia, Leci falou de sua importância, referindo-se à autonomia universitária, mas enfatizando que é preciso valorizá-la.

“Ai! se eu tivesse autonomia
Se eu pudesse gritaria
Não vou, não quero
Escravizaram assim um pobre coração
É necessário a nova abolição
Pra trazer de volta a minha liberdade”

“Cartola disse isso. E eu estou dizendo o seguinte: se eu tivesse autonomia, se eu pudesse eu gritaria que todas as pessoas têm direito ao acesso, à inclusão, independentemente da cor da pele, da religião, da opção sexual. Todas as pessoas, absolutamente todas as pessoas, têm direito à educação”, parafraseou a compositora e cantora.

Bastante emocionada, Leci, que é a segunda mulher negra a assumir um mandato de deputado, ao longo de toda a história da Alesp, lembrou do sofrimento daqueles que chegaram ao país a bordo dos navios negreiros: “Sabe o que acontece quando você favorece algumas pessoas, e desfavorece outras? Isso se chama discriminação. Eu acho que mérito, louvor, sabe o que é mérito? O seio das escravas negras que alimentaram a elite branca. Sabe o que é mérito? São os negros que foram para a Guerra do Paraguai e morreram. Sabe o que é mérito? São as mulheres e homens que foram torturados e dizimados e por isso temos a Comissão da Verdade aqui, hoje”.

Mais uma vez parafraseando Cartola, ela encerrou seu discurso: “Isso é mérito e autonomia. Se eu pudesse gritaria, não vou, não quero, eu não quero as cotas das cadeias, as cotas do analfabetismo, se eu pudesse eu gritaria: eu quero as cotas da educação para todas as pessoas”.

Antes de voltar à presidência, Leci lembrou sua trajetória, de momentos que foi chamada de “enxerida, que já teve na lista de subversiva, que já foi chamada de radical, encrenqueira, barraqueira” por já ter apontado para a importância das cotas. “Porque essa palavra que todo mundo disse aqui hoje, cotas, eu já falo há mais de 25 anos nos palcos”, declarou a deputada comunista.

Leci Brandão expressou sua alegria e satisfação em ver tantas pessoas reunidas, afirmando que já havia agradecido muito aos seus orixás, além de agradecer ao presidente Lula pela criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em 2003, tornando-se a primeira secretaria com status de ministério. “O presidente Lula criou essa secretaria por conta do movimento negro. O movimento negro já vem fazendo a luta das cotas”, frisou a parlamentar, dando um recado aos reitores presentes.

“Mas porque que eu estou feliz? Eu to feliz porque estou vendo aqui nessa plateia a diversidade: temos negros, brancos, morenos, loiros. Está todo mundo aqui como cidadãos brasileiros. Mas estou mais contente porque estou vendo cidadãos jovens, porque tem muita gente que gosta de falar mal de jovens, que jovem é maluco. Mas não é isso não. Pode pensar o que for, pode beber o que for, pode fumar o que for, mas [o jovem] pensa, pensa e está aqui”, destacou Leci Brandão, sendo bastante aplaudida.

No final da audiência, a presidenta da Mesa determinou, acatando sugestões dos movimentos presentes, que seja formada uma comissão para dialogar com todos os parlamentares com a finalidade de "fazer um projeto único, atualizado, com a participação de todos", tendo em vista que existe "um aglomerado de boas ideias”.

Presenças e ausência

A grande ausência sentida foi a do reitor da USP João Grandino Rodas, que enviou a professora pró-reitora Telma Zorn. Esta, por sua vez, tentou deixar o auditório sem que fosse percebida. O deputado Alencar Santana (PT), interrompeu a fala de uma estudante para chamar a atenção da pró-reitora.

"Professora, não sei se a senhora está indo embora ou não. Está? Bom, só queria fazer uma indagação que vossa excelência está numa audiência, aqui nesta casa, o reitor não veio, mas peço que respeite os estudantes que aqui estão". Sob um coro que gritava "fica, fica, fica", Telma Zorn retornou ao seu lugar.

Também não compareceu o reitor da Universidade de Campinas (Unicamp), Fernando Ferreira Costa, que mandou como representante o professor João Frederico.

Estiveram presentes e deram início aos debates o reitor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Júlio Cesar Durigan, e o coordenador da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), Carlos Vogt.

Fonte: Vermelho

Unesp confirma adoção do programa de cotas do governo de SP

Sob protestos, Unesp confirma adoção do programa de cotas do governo de SP

Reitor da universidade anunciou posição favorável à adoção ao Pimesp em audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo


Manifestantes protestam contra a política de cotas em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo Foto: Alesp / Divulgação

Daniel Fernandes Direto de São Paulo
13 de Março de 2013 - 22h20

O reitor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Julio Cesar Durigan, confirmou nesta quarta-feira, em audiência marcada pela presidente da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputada Leci Brandão (PCdoB), que a universidade é favorável à adoção do Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior (Pimesp), proposto pelo governo do Estado no final do ano passado.

"A Unesp tem interesse em fazer a inclusão. (..) Iremos fazer isso nos próximos três anos. Essa é uma decisão da nossa universidade", disse Durigan. Embora a proposta de destinar 50% das vagas para negros e alunos de escolas públicas, gradualmente a partir de 2014, tenha partido do governador Geraldo Alckmin em parceria com os reitores, cada instituição tem liberdade de decidir se vai ou não adotar as cotas.

Ao contrário da Unesp, os reitores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Campinas (Unicamp), João Grandino Rodas e Fernando Ferreira Costa, respectivamente, não compareceram à audiência, o que motivou protestos no auditório da Assembleia Legislativa. Eles haviam sido convidados pela comissão, e agora podem ser convocados a comparecer para discutir o tema com os deputados. Representando a USP, compareceu a pró-reitora de graduação, Telma Zorn, e pela Unicamp, o pró-reitor de extensão, João Frederico C. A. Meyer.

Em meio a fortes protestos de movimentos estudantis e sociais, principalmente de grupos de defesa dos direitos dos negros, os representantes das universidades apresentaram a situação da discussão do programa em suas instituições. Além da Unesp, que já manifestou intenção de aderir ao programa, a representante da USP afirmou que a universidade encaminhou às suas 42 unidades a proposta no dia 28 de janeiro, e o prazo para resposta é de 60 dias. O discurso de Telma Zorn terminou com fortes protestos dos presentes no auditório.

Também por conta dos protestos, o representante da Unicamp interrompeu sua fala e não divulgou maiores detalhes sobre a implementação do programa na universidade.

Críticas

Além dos representantes das universidades, estiveram no evento os deputados Alencar Santana, Adriano Diogo, Telma de Souza, Luiz Cláudio Marcolino e Marco Aurélio, todos do PT, Carlos Giannazi (Psol), Samuel Moreira e Roberto Engler, ambos do PSDB, Beto Trícoli (PV) e o coordenador da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), Carlos Vogt e representantes de movimentos estudantis e sociais.

Em suas falas, tanto os políticos como os representantes dos movimentos foram em sua maioria contrários à adoção do Pimesp. Segundo o presidente do Instituto Luiz Gama, o advogado Silvio Luiz de Almeida, o programa contraria as políticas de afirmação da população negra através de cotas aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em junho de 2012. Para ele, a proposta não representa as demandas e o desejo da população e dos movimentos sociais.

"O Pimesp atropelou todas as discussões, tendo nascido da cabeça dos reitores, o que não significa que nasceu nas universidades", afirmou o advogado. "Universidade é comunidade acadêmica", completou.

Segundo Douglas Belquior, professor de História e Sociologia e membro da UneAfro, São Paulo deveria ter um programa de cotas semelhante ao do governo federal, que reserva 50% das vagas em universidades federais para alunos egressos do ensino público, com uma reserva dentro desse fatia proporcional ao número de negros, pardos e índios em cada estado do País.

De acordo com ele, o governo de São Paulo não acata as decisões do STF e do governo federal de incluir essa população no ensino superior público, e busca maneiras de driblar a obrigação, como com a proposta do Pimesp. "São Paulo não participa da vida política do País.É uma ilha de exclusão, uma ilha de racismo", disse.

Um dos integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP, Pedro Serrano, quetsionou a ausência dos reitores da Unicam e da universidade onde estuda, e acusou o projeto de ter teor político.

Segundo ele, o Pimesp representa uma ante-sala aos estudantes de escolas públicas e negros, que passariam a ter uma etapa adicional em seu ingresso à universidade, ao invés de ter garantida a entrada como na proposta do governo federal. Para Serrano, o modelo forma apenas mão de obra para o mercado, e não garante acesso desse público às instituições.

Saída causa desconforto

O líder do PT na Assembleia, o deputado Alencar Santana Braga, interrompeu a sessão e pediu a palavra para questionar a representante da USP que deixava a audiência. "O reitor já não veio, peço para que a senhora permaneça", afirmou o deputado a Telma Zorn, que foi vaiada por parte dos presentes e permaneceu no local. Posteriormente, ela deixou a mesa da comissão, e foi alvo de críticas de Alencar.

"Isso é uma falta de respeito com os movimentos aqui presentes", disse o petista. "Não adianta dizer que foi tomar um cafézinho", ironizou.

Cotas em São Paulo



Fonte: Terra

Índios de reserva de vagas se formam na UFSCar

Dois índios do programa de reserva de vagas se formam na UFSCar

Eles são os primeiros a se formar desde a criação do projeto em 2008.
Formandos falaram sobre a importância da conquista para os indígenas.

Do G1 São Carlos e Araraquara
13/03/2013 21h59

Dois indígenas se formaram, nesta quarta-feira (13), na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Eles são os primeiros índios graduados dentro do programa de reserva de vagas que teve início em 2008.

Edinaldo Xukuru do Orubá saiu de Pernambuco para cursar psicologia e, antes mesmo de se formar, foi convidado a participar do Conselho Estadual. “Tem um grupo que discute a aproximação da psicologia com as questões indígenas. A partir daí pensar numa aproximação responsável e que mais uma vez não cause danos às comunidades indígenas”, disse.

Segundo ele, a formatura é uma grande conquista dos povos indígenas. “Nós temos poucos indígenas formados no ensino superior e existe uma grande demanda de profissionais nas comunidades”, explicou.

Agenor Custódio Terena, que é do Mato Grosso do Sul, é o primeiro indígena do país a se formar no curso de Imagem e Som. Ele pretende agora contar a história da aldeia de onde veio com um documentário. “Tenho a história escrita, mas esse audiovisual ainda não tem. Isso pode ajudar a divulgar a cultura do meu povo. Eu também quero fazer pós-graduação, me aprimorar mais antes de voltar para lá”, disse.

Em cada um dos 58 cursos oferecidos na UFSCar, uma vaga é para indígenas.  Hoje, são 80 indígenas estudando nos três campi. “É a concretização de uma política que se estabeleceu na comunidade universitária, em benefício da presença da população brasileira e sua diversidade na universidade e na produção de conhecimento”, afirmou a coordenadora de ações afirmativas, Roseli Rodrigues de Mello.

A conquista dos indígenas é uma inspiração para os outros que ainda estão em busca do diploma. “A gente se inspira mais ainda, vendo eles se formando, vendo que eles foram capazes de se formar, a gente também é capaz de chegar lá também”, afirmou o estudante Marconde de Sousa.

Fonte G1

Política de cotas de São Paulo segrega alunos

Para ministro da Educação, política de cotas de São Paulo segrega alunos

Aloizio Mercadante critica modelo defendido por Geraldo Alckmin, afirmando que contraria ideia de que universidade deve servir à integração social, e não à exclusão

Por: Raimundo Oliveira, da Rede Brasil Atual
Publicado em 11/03/2013, 19:52

São Paulo – O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse hoje (11) que a política de cotas apresentada pelo governo de São Paulo mantém os estudantes de escolas públicas apartados do convívio universitário, criando exclusão no local em que deveria ocorrer a integração social. “É uma política de cotas que mantém o aluno segregado. Se é assim, o governador deveria adotar esse sistema para todos os alunos que quisessem ingressar na universidade”, disse, durante conversa com jornalistas após audiência pública na Assembleia Legislativa paulista.

Para Mercadante, não se pode dizer que a proposta do governador Geraldo Alckmin (PSDB) funcione como alternativa à política de cotas do governo federal, como argumenta a gestão tucana. “Esse sistema de college é usado em vários países, mas de maneira diferente. Aqui os alunos não têm garantia se vão conseguir o diploma ou o certificado no final do curso, nem se a carga horária do curso será abatida como crédito depois que ingressarem na universidade”, afirmou.

Baseado no college, o ensino superior dos Estados Unidos, o programa de cotas do governo estadual também é criticado por movimentos de promoção da igualdade racial. Os selecionados terão de fazer um curso semipresencial de dois anos. Para ter acesso às universidades, será necessário completar o segundo ano, com, no mínimo, média sete. No entanto, ao final do primeiro ano de curso, os que obtiverem desempenho acima de 70% já terão vagas garantidas nas Faculdades de Tecnologia (Fatecs). A distribuição dos outros 60% das vagas por cotas será definida a critério de cada universidade.

Para Mercadante, outro defeito da proposta de Alckmin é que não há a garantia de continuidade em caso de mudança de governo, já que não se trata de um projeto de lei, mas de uma decisão tomada internamente, e sem que fossem ouvidos deputados e representantes da sociedade civil. O ministro da Educação apresentou como contrário a política do governo federal, implementada desde 2003 e que, a partir do ano passado, foi reforçada pela aprovação de um projeto de lei que prevê que negros e indígenas tenham direito a 50% das vagas até 2020.

“Atualmente, nas universidades federais, 12,5% dos alunos são cotistas. O desempenho dos melhores alunos cotistas é igual ao dos alunos não cotistas.” Para se preparar para a realidade futura, disse Mercadante, o governo federal está criando planos que viabilizem do ponto de vista financeiro a permanência de alunos pobres, com oferecimento de transporte e moradia, e que garantam um processo de aprendizado para aqueles que cheguem ao ensino superior em estágio inferior aos demais estudantes.


Pesquisa derruba mito sobre cotas

Pesquisa da UFABC derruba mito sobre cotas

Natália Fernandjes - Do Diário do Grande ABC

10/03/2013 07:30:00

O desempenho acadêmico de estudantes da UFABC (Universidade Federal do ABC) ao longo dos anos indica que o sistema de cotas - que reserva 50% das vagas para estudantes oriundos de escolas públicas - não interferiu negativamente na qualidade do Ensino Superior público.

Apesar de os cotistas apresentarem mais dificuldades no aprendizado, principalmente nos primeiros anos da graduação, levantamento realizado em 2011 mostra que o êxito médio de todos os discentes, mensurado pelo CR (Coeficiente de Rendimento) que varia de zero a cinco, é considerado satisfatório. De acordo com a pesquisa institucional, os 4.855 estudantes entrevistados têm desempenho médio de 2,06. Na universidade (para que os alunos tenham acesso a bolsas de incentivo) é preciso obter CR a partir de 2.

Quando avaliadas separadamente, no entanto, as notas dos dois grupos mostram que cotistas têm mais dificuldade em aprender. O CR geral dos alunos que cursaram Ensino Médio em escolas públicas fica em 1,99, enquanto que a nota dos jovens formados nas escolas particulares é 2,11. A disparidade, no entanto, não interfere na média geral da universidade.

A instituição federal foi pioneira no País em praticar a reserva de vagas desde seu primeiro vestibular, em 2006. Em outubro, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei de Cotas, por meio da qual todas as instituições federais de Ensino Superior devem adotar o esquema.

Na UFABC, o ingresso de 1.900 estudantes é feito pelo SiSU (Sistema de Seleção Unificada), que utiliza apenas as notas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como critério de seleção. A universidade tem hoje cerca de 7.200 estudantes, sendo 3.300 cotistas.

A análise do desempenho destaca ainda que o desnível dos alunos, em razão da debilitada formação básica, é evidenciado no ingresso à universidade a partir da comparação das notas do Enem. Estudantes cotistas apresentam notas 4% menores do que não cotistas. No SiSU de 2012, por exemplo, aqueles que tiveram benefício do sistema de cotas apresentaram nota média de 662 pontos, contra 691 dos jovens formados em escolas privadas.

Para o pró-reitor de Graduação da UFABC, Derval dos Santos Rosa, os dados mostram que o sistema de cotas é a melhor proposta para a inserção dos jovens que cursaram Ensino Médio em instituições públicas de Ensino Superior. "Nossos cursos continuam sendo reconhecidos e figuram entre os mais conceituados do País."

Passado o vestibular, é preciso que a instituição adote práticas que garantam a permanência do aluno, avalia o pró-reitor. Além de ações de inserção e acolhimento, o projeto pedagógico precisa ser adaptado - o estudante tem flexibilidade para escolher o número de matérias que deseja cursar.

Dedicação é segredo para o sucesso

O rendimento acadêmico ligeiramente inferior por parte dos alunos cotistas mostra que os dois grupos de estudantes não encontram as mesmas dificuldades ao longo da vida acadêmica. Pelo lado dos oriundos de escolas públicas, há necessidade de dedicação em dobro ou triplo aos livros para alcançar CR (Coeficiente de Rendimento) satisfatório.

"Tive que estudar o triplo dos meus colegas que vieram de escola particular para ter boas notas no primeiro ano", conta Thabata Pinho Müller, 20 anos, aluna do curso de BC&T (Bacharelado em Ciências e Tecnologia) e cotista no campus Santo André.

Natural de Americana, no interior do Estado, a jovem diz que a adaptação quanto ao ritmo de estudos levou cerca de um ano. "Além de não ter aprendido alguns conteúdos no ensino público, é difícil tirar notas baixas e não desanimar", destaca. Para manter o CR acima de 2 é preciso de, no mínimo, oito horas de estudo diário.

A ideia de Thabata é se formar em, no máximo seis anos, e para isso recebe ajuda dos pais. "O combinado é que me esforço aqui e eles lá para que eu não precise trabalhar", comenta.

Basta olhar para o lado para se deparar com pessoas que acabam desistindo do curso, comenta a estudante de BC&H (Bacharelado em Ciências e Humanidades) do campus São Bernardo Natasha Almeida Macedo, 18. "Na minha sala muita gente trancou a matrícula no primeiro ano". Para quem trabalha, a dificuldade é pior. Segundo ela, a maior parte do processo de aprendizado não é feita em sala de aula. "O professor está lá para complementar e debater os temas, mas é preciso preparação da aula antes e rotina de estudos em casa", observa.

Defensora do sistema de cotas, Natasha explica que a área de exatas é a principal dificuldade daqueles que estudaram na rede pública. "Infelizmente não tivemos essa base, então precisamos recuperar nos esforçando mais", completa.

Cotistas são minoria entre estudantes que concluem graduação

Beneficiados com metade das vagas destinadas aos ingressos no vestibular da UFABC, estudantes cotistas representam minoria entre os formados. Levantamento da instituição mostra que o número de alunos oriundos de escolas públicas que concluíram o Ensino Superior até 2012 é 34% menor do que o de jovens que cursaram o Ensino Médio na rede privada. Dos 734 estudantes formados até o ano passado, 292 são cotistas e 442 não.

Para o professor do curso de Políticas Públicas da UFABC, cotistas levam mais tempo para concluir a graduação porque, além de enfrentarem mais dificuldades, muitos precisam trabalhar e, com isso, diminuir o número de matérias cursadas por quadrimestre. "Ainda consideramos cedo para fazer essa análise porque os jovens têm até sete anos para terminar o curso e a universidade tem apenas seis anos", pondera.

O tempo que levarão para se formar não é a principal preocupação dos alunos. Pelo contrário. Para eles o que vale é ter a certeza de que estão preparados, comenta o estudante cotista de BC&T Ivan Makino, 21 anos. "Lógico que pretendo me formar em até seis anos, mas não adianta acelerar o tempo da graduação e perder em aprendizado", destaca. Apesar de ainda não precisar trabalhar, o jovem reafirma a vontade de ingressar em estágio no próximo ano.



quarta-feira, 13 de março de 2013

Cotas em diálogo - USP

Cotas em diálogo
Tendências/Debates: Cotas em diálogo - 12/03/2013

LILIA SCHWARCZ / MARIA HELENA MACHADO / JOHN MONTEIRO*


O estratégico e espinhoso assunto das cotas sociais e étnico-raciais está em pauta. Acaba de ser enviado aos docentes da USP (Universidade de São Paulo) o projeto Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp), com um prazo exíguo de 30 dias para a manifestação da comunidade universitária.

Sabemos que as universidades estaduais paulistas estão atrasadas, sobretudo em relação às federais, no que tange ao ingresso amplo ao ensino superior público e de qualidade. No entanto, tal situação não justifica que, após anos de silêncio, sejamos levados a tomar decisões de afogadilho, que podem aprofundar os problemas que queremos corrigir.

O projeto não traz autoria e vem recheado de números cuja origem não é indicada. Fica a impressão de um projeto apressado e preliminar, preparado sem dar ouvidos à comunidade acadêmica paulista ou aos movimentos sociais que vêm discutindo a questão da inclusão social e das cotas já há um bom tempo.

O projeto do Pimesp declara o objetivo de que pelo menos 50% das matrículas sejam preenchidas por alunos oriundos do ensino médio público e, dentre esses, 35% autodeclarados PPIs (pretos, pardos e indígenas). A proposta apresenta, no entanto, medidas problemáticas, que podem aumentar as desigualdades sociais e étnico-raciais, em vez de abrir caminho para diminuí-las.

A medida mais problemática é a criação de um Instituto Comunitário de Ensino Superior (Ices), inspirado no "Community College" norte-americano, que são faculdades de formação profissional e de educação continuada em cursos de dois anos. Não parece acertado que as universidades estaduais paulistas, centros de excelência reconhecidos internacionalmente, apropriem-se de maneira inadequada de um modelo que não se coaduna com nossas reais necessidades de inclusão.

                                                         Herman Tacasey/Folhapress

O Ices se propõe a oferecer cursos gerais de complementação da escolarização média e "formação sociocultural superior para exercício de cidadania". Ora, se queremos enfrentar as desigualdades, devemos começar por reconhecer os jovens de baixa renda e os PPIs como cidadãos que merecem e exigem muito mais do que uma extensão do ensino médio num formato paternalista. O que esses alunos almejam é participar da experiência universitária de nossos campi, de maneira plena e cidadã.

Ademais, tal proposta parece desconhecer o grau de inserção e desempenho dos alunos que entram em outras escolas pelo sistema de cotas. O risco é criarmos novos espaços de exclusão e distanciar o nosso ensino público da direção almejada por todos nós: a diminuição das desigualdades sócio-raciais.

Segundo a proposta, os alunos da escola pública e os PPIs fariam esse curso, em grande parte, à distância. Nada justifica a implantação desse sistema para jovens alunos, carentes justamente das possibilidades que a convivência universitária pode trazer.

Finalmente, após dois anos, o Pimesp considera a possibilidade do aluno "incluído" ingressar na universidade real, "respeitando o mérito acadêmico". O Pimesp não oferece, pois, nenhuma garantia de acesso desse aluno ao sistema universitário integral e, pior, aqueles que conseguem completar os cursos, terão feito no mínimo seis anos de formação, com os dois cursados no Ices.

Aprovado o Pimesp como está, não é difícil imaginar que continuaremos a ter universidades predominantemente brancas e elitistas, já que a inclusão se dará à distância.

Consideramos, assim, premente a abertura de um amplo debate público nas universidades estaduais paulistas. É passo necessário para o processo de democratização e inclusão efetiva no ensino superior, meta que hoje o Brasil enfrenta como um dos seus maiores e mais profundos desafios.

* LILIA M. SCHWARCZ é professora titular da Universidade de São Paulo (USP) e global professor da Universidade Princeton; MARIA HELENA P. T. MACHADO é professora titular da USP; e JOHN M. MONTEIRO é professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

* Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

Fonte - FSP

junho 2012 a fevereiro 2013

Por motivo de força maior tivemos um hiato de aproximadamente 6 meses nos lançamentos deste Blog Afirmativas.

MLG