terça-feira, 11 de junho de 2013

Programas aumentam número de índios em universidades de SC

Programas aumentam número de índios em universidades de SC

10/06/2013 22h15 - Atualizado em 11/06/2013 15h14
Géssica Valentini Do G1 SC

Na UFSC, sistema prevê atualmente 10 vagas, que serão ampliadas.
Em instituições particulares, bolsas e financiamentos são alternativas.


O programa de Ações Afirmativas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) prevê cotas para índios desde 2008. Até o ano passado, nove vagas eram disponibilizadas, com um limite de duas vagas por curso. Uma reformulação ampliou o número de vagas, desde que haja candidatos aprovados. Conforme a UFSC, o total será ampliado gradativamente, enquanto o limite por curso subiu para 3 vagas. São 10 vagas em 2013, 13 em 2014, 16 em 2015, 19 em 2016 e 22 em 2017.

De acordo com o presidente da Comissão de Acompanhamento das Ações Afirmativas da UFSC, Marcelo Tragtenberg, a alteração ocorreu porque nos últimos anos houve um aumento gradativo no número de indígenas prestando vestibular. Ele comemorou as novas regras e a continuidade do Programa.

"A nova lei estabelece, no âmbito da UFSC, que cada curso deve reservar uma vaga para autodeclarados indígenas de escola pública. O Estatuto do Índio estabelece que os índios são aqueles que são reconhecidos pelo seu povo e se reconhecem como daquele povo. Esse critério pode ser utilizado para evitar fraudes, mas somente após a matrícula, via processo administrativo. Estamos iniciando esse processo de integração", explica Tragtenberg.

Um estudo do Núcleo de Estudos dos Povos Indígenas da UFSC, sobre os alunos indígenas que ingressam na instituição com as vagas suplementares, mostra que entre 2008 e 2011 foram nove classificados, sendo que apenas quatro ainda estavam matriculados no ano passado, entre eles a estudante de medicina Fernanda Peretti Corrêa, que ingressou em 2010, e a aluna de direito Lucimara Patté, que iniciou a graduação em 2012.

Fernanda foi a primeira estudante a ingressar no curso de medicina da UFSC através das cotas. Para permanecer na universidade, ela conta que recebe uma bolsa permanência, no valor de R$ 490, além de uma bolsa da Fundação Nacional do Índio (Funai), de R$ 300, e um auxílio moradia de R$ 200. Mãe de dois filhos, de 11 e 3 anos, ela diz que, apesar de importante, ainda precisa da ajuda dos pais e da avó paterna das crianças. “Se não tivesse esse auxílio, não conseguiria estudar”, afirma ela.

Como Fernanda, outros estudantes também apontam o valor da bolsa como baixo e até mesmo motivo desistência, como mostra o estudo do Núcleo de Estudos dos Povos Indígenas. Além disso, o trabalho mostra que a divulgação do vestibular não chega às aldeias, há uma burocracia para se conseguir a isenção da taxa e a própria entrevista. Ainda assim, estudantes como Fernanda e Lucimara continuam no curso e comemoram a oportunidade.

Estudantes indígenas matriculados no país
Educação infantil                                    22 mil
Ensino fundamenta                              175 mil
Ensino médio                                         27 mil
Educação de Jovens e Adultos             22 mil
Ensino superior                                       9 mil
Fonte: Censo Escolar 2010/MEC


Indígenas em instituições particulares

Segundo o Censo Escolar de 2010, do Ministério da Educação, em todo o país há pelo menos 9 mil índios em cursos superiores. Na UFSC, além dos cotistas, há o curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, específico para descendentes das etnias kaingags, xoklengs e guaranis, que ingressaram através de um processo seletivo diferenciado. Conforme a professora Maria Dorothea Post Darella, 120 alunos iniciaram a graduação, em 2011, e 95 continuam matriculados.

Conforme a agente indigenista Luciana Porta, da Fundação Nacional do Índio (Funai), a entidade não possui um registro do número de índios em outras universidades do estado, mas garante que o número ultrapassa dezenas e a maioria está matriculada em instituições particulares. Apesar disso, apenas alunos de universidades públicas recebem uma bolsa da Funai, no valor de R$ 300. Ainda conforme Luciana, até mesmo este auxílio no próximo semestre será repassado pelo Ministério da Educação (MEC).

"A Funai costumava destinar uma ajuda a todos, mas nos últimos anos o número de estudantes cresceu muito, até que não foi possível mais. Somente neste semestre, temos 16 pedidos de auxílio de estudantes na região de Ibirama, mas há dezenas de estudantes somente nesta região", disse ela.

Nesse caso, conforme Luciana, os alunos dependem das oportunidades de cada universidade, como bolsas do governo federal, estadual ou da própria instituição, além de financiamentos estudantis, que também considera responsáveis pelo aumento no número de indígenas em cursos superiores.

Seja em universidades públicas ou particulares, apesar da dificuldade em concluir o curso, a agente indigenista comemora a existência dos programas e o interesse pela educação superior. "Além de melhorar a autoestima, há uma integração deles na universidade. É muito importante ocuparem esse espaço universitário, que é universal, para conquistarem reconhecimento como cidadãos. Acredito que essas oportunidades são necessárias para isso”, conclui ela.

Extraído de G1

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