Sob protestos, Unesp confirma adoção do programa de cotas do
governo de SP
Reitor da universidade anunciou posição favorável à adoção
ao Pimesp em audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo
Manifestantes protestam contra a política de cotas em
audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo Foto: Alesp
/ Divulgação
Daniel Fernandes Direto de São Paulo
13 de Março de 2013 - 22h20
O reitor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Julio
Cesar Durigan, confirmou nesta quarta-feira, em audiência marcada pela
presidente da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de São
Paulo, deputada Leci Brandão (PCdoB), que a universidade é favorável à adoção
do Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior (Pimesp), proposto
pelo governo do Estado no final do ano passado.
"A Unesp tem interesse em fazer a inclusão. (..) Iremos
fazer isso nos próximos três anos. Essa é uma decisão da nossa
universidade", disse Durigan. Embora a proposta de destinar 50% das vagas
para negros e alunos de escolas públicas, gradualmente a partir de 2014, tenha
partido do governador Geraldo Alckmin em parceria com os reitores, cada
instituição tem liberdade de decidir se vai ou não adotar as cotas.
Ao contrário da Unesp, os reitores da Universidade de São
Paulo (USP) e da Universidade de Campinas (Unicamp), João Grandino Rodas e
Fernando Ferreira Costa, respectivamente, não compareceram à audiência, o que
motivou protestos no auditório da Assembleia Legislativa. Eles haviam sido
convidados pela comissão, e agora podem ser convocados a comparecer para
discutir o tema com os deputados. Representando a USP, compareceu a pró-reitora
de graduação, Telma Zorn, e pela Unicamp, o pró-reitor de extensão, João
Frederico C. A. Meyer.
Em meio a fortes protestos de movimentos estudantis e
sociais, principalmente de grupos de defesa dos direitos dos negros, os
representantes das universidades apresentaram a situação da discussão do
programa em suas instituições. Além da Unesp, que já manifestou intenção de
aderir ao programa, a representante da USP afirmou que a universidade
encaminhou às suas 42 unidades a proposta no dia 28 de janeiro, e o prazo para
resposta é de 60 dias. O discurso de Telma Zorn terminou com fortes protestos
dos presentes no auditório.
Também por conta dos protestos, o representante da Unicamp
interrompeu sua fala e não divulgou maiores detalhes sobre a implementação do
programa na universidade.
Críticas
Além dos representantes das universidades, estiveram no
evento os deputados Alencar Santana, Adriano Diogo, Telma de Souza, Luiz
Cláudio Marcolino e Marco Aurélio, todos do PT, Carlos Giannazi (Psol), Samuel
Moreira e Roberto Engler, ambos do PSDB, Beto Trícoli (PV) e o
coordenador da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), Carlos
Vogt e representantes de movimentos estudantis e sociais.
Em suas falas, tanto os políticos como os
representantes dos movimentos foram em sua maioria contrários à adoção do
Pimesp. Segundo o presidente do Instituto Luiz Gama, o advogado Silvio
Luiz de Almeida, o programa contraria as políticas de afirmação da população
negra através de cotas aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em junho de
2012. Para ele, a proposta não representa as demandas e o desejo da população e
dos movimentos sociais.
"O Pimesp atropelou todas as discussões, tendo nascido
da cabeça dos reitores, o que não significa que nasceu nas universidades",
afirmou o advogado. "Universidade é comunidade acadêmica", completou.
Segundo Douglas Belquior, professor de História e Sociologia
e membro da UneAfro, São Paulo deveria ter um programa de cotas semelhante
ao do governo federal, que reserva 50% das vagas em universidades federais para
alunos egressos do ensino público, com uma reserva dentro desse fatia proporcional
ao número de negros, pardos e índios em cada estado do País.
De acordo com ele, o governo de São Paulo não acata as
decisões do STF e do governo federal de incluir essa população no ensino
superior público, e busca maneiras de driblar a obrigação, como com a proposta
do Pimesp. "São Paulo não participa da vida política do País.É uma ilha de
exclusão, uma ilha de racismo", disse.
Um dos integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE)
da USP, Pedro Serrano, quetsionou a ausência dos reitores da Unicam e da
universidade onde estuda, e acusou o projeto de ter teor político.
Segundo ele, o Pimesp representa uma ante-sala aos
estudantes de escolas públicas e negros, que passariam a ter uma etapa
adicional em seu ingresso à universidade, ao invés de ter garantida a entrada
como na proposta do governo federal. Para Serrano, o modelo forma apenas mão de
obra para o mercado, e não garante acesso desse público às instituições.
Saída causa desconforto
O líder do PT na Assembleia, o deputado Alencar Santana
Braga, interrompeu a sessão e pediu a palavra para questionar a representante
da USP que deixava a audiência. "O reitor já não veio, peço para que a
senhora permaneça", afirmou o deputado a Telma Zorn, que foi vaiada
por parte dos presentes e permaneceu no local. Posteriormente, ela deixou
a mesa da comissão, e foi alvo de críticas de Alencar.
"Isso é uma falta de respeito com os movimentos aqui
presentes", disse o petista. "Não adianta dizer que foi tomar um
cafézinho", ironizou.
Cotas em São Paulo
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